terça-feira, 11 de maio de 2010

Músicas para ouvir no País das Maravilhas


Nova versão de Alice no País das Maravilhas chega aos cinemas com duas trilhas sonoras

Agência Estado
Alice no País das Maravilhas chega às telas em todo o País acompanhado de duas trilhas sonoras. Almost Alice, oficial mas paralela, escala artistas do pop rock em faixas inspiradas nos personagens de Lewis Carroll. Já Alice In Wonderland: Soundtrack é assinada por Danny Elfman, que está para a música dos filmes de Tim Burton como Johnny Depp e Helena Bonham Carter estão para o elenco

Foto: Divulgação
A cantora Avril Lavigne em cena de clipe que simula a festa louca do chá
Elfman é quem maquina em forma de canções as excentricidades de Burton. São dele, por exemplo, as composições de Estranho Mundo de Jack, Batman, Edward Mãos de Tesoura e A Noiva Cadáver.

A trilha original, criada para o filme, abre com Alice's Theme. Orquestrada, com vocal feminino, a faixa percorre toda a narrativa, com letra que remete ao enredo - o retorno da adulta Alice ao País das Maravilhas, ou, como é dito no filme, ao "Underland". Usando ecos desse tema principal, Elfman constrói os climas da história em outras 23 faixas, indo da canção de contos de fadas para Alice criança à tensão de batidas primitivas nos enfrentamentos da experiência subterrânea. E vai costurando a fábula dark com coros fantasmagóricos para intensificar ações, diminuir a tensão e capturar as crises de Alice e companhia.
Quando sobem os créditos, porém, o que se ouve é o som da canadense Avril Lavigne cantando a faixa hit "Alice (Underground)", que abre o disco Almost Alice. No entanto, a produção dos escoceses Franz Ferdinand, "The Lobster Quadrille", é o momento quase único em que o álbum alcança as sombras características de Tim Burton, com o detalhe de que a letra foi escrita por Lewis Carroll em si.
No CD também há boas peças como "Fell Down a Hole", de Wolfmother, ou "The Poison", do The All American Rejects. Outro destaque é "White Rabbit", canção de Jefferson Airplane revisitada por Grace Potter and the Nocturnals, cujo único senão é praticamente repetir musicalmente o que a banda pioneira do psicodelismo já havia mostrado em 1967 na gravação original.

Diretor quer que Alice surpreenda o público

Com seu novo filme Tim Burton quer recuperar o sentimento de surpresa nas plateias maduras


Alice no País das Maravilhas é uma convite para a surpresa, um beliscão para "tentar recuperar a capacidade de se surpreender com as coisas novas, característica das crianças", ressalta o diretor do filme, o cômico e sempre surpreendente Tim Burton.

Foto: Divulgação
Alice de Tim Burton é uma interpretação "mais livre" da história original
"Alice não é uma alegoria sobre a volta à infância nem um filme para crianças", explicou Tim Burton à Agência EFE em Londres, onde promove o filme, que chega nesta sexta-feiras aos cinemas brasileiros.
Segundo ele próprio, lhe interessa explorar histórias nas quais os personagens "compreendem a vida a partir de um ponto de vista novo e estranho".
Justamente esse novo e estranho ponto de vista é o que o inspirou ao interpretar os personagens do escritor britânico Lewis Carroll.
O diretor de A Fantástica Fábrica de Chocolate sustenta que, apesar das inúmeras versões que existem de Alice no País das Maravilhas, nenhuma chegava a convencer. Por esse motivo, seu filme repercutiu como "diferente" ao que tinha sido feito até agora, com uma interpretação "mais livre" da história e dos personagens.
"No entanto, todos os desenhos foram feitos de olho nos desenhos de John Tenniel (o artista que ilustrou a primeira edição do livro em 1865), porque, embora não tenhamos calcado suas ideias, tínhamos que respeitar o espírito de personagens que se transformaram em autênticos ícones".
O resultado desse difícil equilíbrio é que Wonderland (ou País das Maravilhas, em tradução livre) se transforma em Underland (ou País do Subterrâneo, em tradução livre) e a cor fica degradê em um lugar cujos habitantes se caracterizam por estarem totalmente loucos.






 O Chapeleiro Louco de JohnnyDepp está"completamente louco"
Não há mais que se fixar no insano e quase esquizofrênico Chapeleiro Louco interpretado por Johnny Depp, para se fazer uma ideia da reinterpretação de Tim Burton do clássico infantil.
"Ele faz coisas inesperadas, rompe padrões, passa da compaixão ao ódio e alterna em uma sucessão de emoções que leva a pensar que sofre algum tipo de transtorno de personalidade. Definitivamente, o Chapeleiro Louco está completamente louco", diz Depp à Agência EFE sobre seu personagem.
Para fazer mais evidentes essas mudanças de personalidade, o intérprete se atreveu com os sotaques e, algo mais difícil ainda para os atores americanos, com o sotaque escocês, que Depp já praticou em Em Busca da Terra do Nunca, onde encarnava James Matthew, autor de Peter Pan, outra das grandes parábolas sobre a infância junto a As crônicas de Nárnia.
A maquiagem, com olhos coloridos de amarelo exagerados digitalmente entre 10% e 15%, o cabelo laranja e, sem dúvida, o chapéu, são os traços característicos do Chapeleiro Louco de Burton.
"Tudo o que contribui para perder mais de você mesmo e a se parecer mais com o personagem é sempre bem-vindo", afirma Depp. O ator confessa que mergulhou no personagem "depois", algo que só tinha feito antes com o capitão Jack Sparrow da saga de Piratas do Caribe.
O ator e o diretor coincidiram pela primeira vez há 20 anos em Edward Mãos-de-Tesoura. Desde então, trabalharam juntos em outros seis projetos. Segundo Burton, "assim que surgir o roteiro ideal, com um personagem que encaixe com ele, voltaremos a trabalhar juntos".

ALICE : A obra prima de Lewis Carroll

Livro do reverendo Charles Lutwidge Dodgson foi um dos grandes precursores do modernismo

Sérgio Rodrigues
O filme de Tim Burton é o melhor convite dos últimos tempos para que novos leitores fiquem “mais e mais curiosos” (parafraseando o que diz Alice depois de comer o bolo que a faz crescer) e descubram um dos grandes clássicos da literatura – que na verdade são dois. O reverendo inglês Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898), o homem por trás do pseudônimo Lewis Carroll, publicou-os com sucesso imediato em 1865 e 1871, respectivamente: Alice’s adventures in Wonderland, mais conhecido como Alice in Wonderland ou Alice no país das maravilhas, e sua continuação Through the looking glass, ou Através do espelho.


Foto do reverendo Charles Lutwidge Dodgson
O favor que Burton faz a Carroll não se deve à fidelidade ao texto, que o diretor admite não ter buscado. Para começar, sua Alice, de 19 anos, é bem mais velha que a criança original - o que é confortável em nossos tempos de vigilância contra a pedofilia, suspeita da qual Dodgson, que gostava de desenhar e fotografar meninas em poses sensuais, nunca se livrou, embora as evidências apontem para paixões platônicas. A organização em episódios dos livros também foi trocada por uma trama mais amarrada.
Mesmo assim, com sua atração pelo bizarro, Burton pode ter restituído a Alice o humor perturbador e às vezes sombrio que muitas décadas de leituras bem-comportadas e infantilizantes - sobretudo a do longa-metragem de animação da Disney, de 1951 - procuraram atenuar.
No primeiro livro, as aventuras da protagonista num mundo onírico, cheio de humor nonsense e personagens dúbios ou francamente hostis, começam quando ela entra numa toca de coelho. No segundo, Alice atravessa um espelho. Há no filme de Burton, embaralhados, elementos das duas histórias. A missão que devolverá Alice a seu mundo - matar o monstruoso Jabberwocky - é inspirada no poema de mesmo nome que ela encontra no segundo volume, dentro de um livro que, escrito ao contrário, precisa ser lido diante do espelho.
Inspiradas nas histórias orais que Dodgson improvisava para uma amiguinha real, Alice Liddell, de 10 anos, as aventuras de Alice são uma das obras capitais da literatura infantil, com tradução para 125 línguas. Mas são mais do que isso: a fúria com que seu autor, matemático de prestígio, empacotou ali paradoxos, charadas, jogos de palavras e neologismos garantiu-lhes um prestígio talvez até maior com os leitores adultos. James Joyce e Jorge Luis Borges estão entre os grandes escritores influenciados por Carroll, que, sob muitos aspectos, foi o maior precursor do modernismo a escrever no século 19.

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