segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Dia de Finados - Dia de Rememorar Histórias

 Francílio Dourado


Dia 02 de Novembro é feriado dedicado à memória dos mortos .Muitos aproveitam o dia pra dormir um pouco mais, irem a praia,passear com os filhos, ler um livro, dar uma geral na casa, organizar os armários, tomar um café com amigos,  passear com o cachorro,andar de bicicleta no parque, realizar atividades que a rotina diária não possibilita.
Seus pais estão vivos? Se a resposta for sim,que tal repensar que a vida é uma passagem breve, aproveitar que neste dia, não terá trabalho, faculdade ou atividades rotineiras e sair pra passear, com eles?!
Só os pais, nos acolhem com amor incondicional,ao longo da nossas vidas,aguentam  nossas chatices, inquietações,  alegrias,tristezas, enfrentam conosco nossos medos, cuidam dos nossos ferimentos, pra que estes não deixem cicatrizes nem no físico, nem na alma .
Pai e Mãe, o que seria de nós, sem eles ? na verdade,nem existiríamos.
Acordei com saudades, do velho Dourado. Lembrei-me, de quando Lula foi eleito presidente e enquanto comemoravamos e cantavamos "Lula lá uma estrela brilha..."abraçando  meus irmãos Dourado e Marcílio, comemoravamos e choravamos, lembrando do nosso pai, que não estava ali pra testemunhar a vitória. A vitória da Dilma, foi uma grande conquista para a Mulher.Mas foi diferente, num outro contexto,com alianças que  deixaria meu pai indignado.Conhecia-o bem,seu jeito inquieto e verdadeiro de ser.Sempre que vejo o Plínio Arruda Sampaio do PSOL na TV, lembro-me do inquieto político do PDT Francílio Dourado,seu jeito anárquico ,brincalhão e opositor por convicção. Após a vitória da Dilma, foi outro momento que lembrei-me muito dele.A figura política do velho Dourado, reflete a somatória da postura do Plínio com a Marina.Lembro-me, que o mesmo afastou-se do PDT, partido do qual foi um dos fundadores no Ceará, quando Lúcio Alcântara filiou-se, dizendo" não posso continuar num partido, que aceita filiações de quem colaborou com o governos arenistas e ocupou cargos públicos durante a ditadura". Lembro-me ainda,da forma alegre como presenteava os filhos,  ao chegar de suas viagens como jornalista político. Guardo com carinho, a primeira boneca, a vitrola, as agendas(que me serviam como diários), os livros e a máquina de escrever.Guardo ainda comigo,o seu primeiro panfleto de candidato a vereador,ao lado de outra mulher também inquieta, na luta por justiça social, a Rosa Fonseca. 
Abrindo minha caixa de fotografias, como me  orgulho, vê-lo em passeatas, contra a ditadura militar, noutras ao lado de Brizola, Moema Santiago,Tereza Zerbini e seus fiéis amigos da política,Heitor Férrer e Araújo de Castro( que nos deixou a pouco tempo,pra continuar ao lado do amigo,lutando por um mundo melhor, lá de cima).Sinto falta dos seus discursos inflamados, diante das alianças políticas que se orquestravam em prol das eleições e da alternância do poder.
Lembro-me bem, do jeito emocionado e cheio de orgulho, ao falar dos filhos. Brigar...ele brigou com todos, da mesma forma  e com a mesma intensidade que estendeu a mão e abriu os braços quando necessário.Atitude comum,não somente em relação aos filhos, mas extensiva a todos com os quais convivia,com os que tinha afeto.
Francílio Dourado, rompia os padrões convencionais, tanto na convivência social como política. Seu jeito expontâneo e verdadeiro de ser, incomodava alguns, mas agradava a grande maioria dos que o conheciam.Foi um guerreiro na luta contra a ditadura e  contra o coronelismo no Ceará.
Quando criança, via meu pai como uma espécie de herói,cresci vendo suas inquietações e sabendo que quando ele ausentava-se de casa, era por estar percorrendo todo o estado do Ceará, fundando núcleos políticos, como fez com o MDB (partido que durante o regime militar,congregava as forças oposicionistas contra a Arena,partido da situação).
Francílio Dourado...quanto orgulho eu tinha ao chamá-lo de pai. Era de fato, um bom cidadão, um bom jornalista,um homem que advogava sempre em favor dos outros e que percorria os mais diversos caminhos à favor da educação.Nossa casa, serviu de abrigo para parentes,amigos... tinha sempre visitas, pessoas de baixa renda, que vinham em busca de ajuda para colocar seus filhos nas escolas e em cursinhos pré-vestibulares.Acredito, que minha grande paixão pela Chapada do Araripe,não deve-se somente a questão da beleza geográfica, arqueológica e a cultura do povo.Mas, principalmente pelo que meu pai plantou por lá, dos rastros que ele deixou.
Quando escuto  pessoas, que o conheceram falando dele de forma elogiosa, fico emocionada. Como ocorreu, quando o jornalista e ex-secretário de cultura, Auto Filho, me falou:
 " Seu pai ajudou muita gente, da forma mais expontânea e verdadeira.Muitos dos quais,ele nem percebia o quanto estava ajudando, por achar sua ação um ato natural .Sou muito grato ao Dourado, pela forma despretenciosa e consciente, com a qual ele me ajudou durante a ditadura". Adísia Sá,profissional do jornalismo cearense que aprendi a admirar através do meu pai, era uma amiga e companheira do jornalismo, me deixou com a voz embargada, após um debate na Universidade ao afirmar:
" Minha filha, seu pai possuia características que são essenciais no jornalismo, a inquietude, o compromisso e a coragem , ele não só buscava a notícia, ele participava, se envolvia  sem se render.Por isso,não chegou ao poder,pois não mudava seu ponto de vista,não se vendia por nada,não se rendia nem mesmo ao partido  ao qual era filiado " .
Papai ,conquistou muitos amigos e não deixou inimigos.Cercou-se de pessoas que ainda hoje, nos abraça com a emoção e o carinho de quem abraça os filhos de um "Zoadento Guerreiro".
Também não deixou herança material,mas deixou o amor incondicional que todo pai e mãe deve ter pelos filhos.
Saudades...saudades deste guerreiro que se foi e nos deixou com muitas histórias pra contar. 
Saudades do meu amado pai 

Francílio Dourado autografando o Livro "História do Brasil República e Ceará Estado" na Câmara de Vereadores de Fortaleza



POEMA DE FINADOS
                                    Manuel Bandeira



Amanhã que é dia dos morto
Vai ao cemitério. Vai
E procura entre as sepulturas
A sepultura de meu pai.

Leva três rosas bem bonitas.
Ajoelha e reza uma oração.
Não pelo pai, mas pelo filho:
O filho em mais precisão.

O que resta de mim na vida
É a amargura do que sofri.
Pois nada quero, nada espero.
 
E em verdade estou morto ali.

Um comentário:

  1. Querida Lila,
    Adjunto a sua saudade a minha.
    Beijos,
    Armando.



    Passado o sofrimento desses últimos dias
    Fica a certeza, só o perfeito permanece
    O Mal feito, desvanece
    E triunfa o legado da coragem que nos deixou
    Este homem que nunca nos deixará



    Acertado ou errado, tomou a vida nos braços;
    Agarrou-a, com toda a força
    Sempre grande da certeza de que dela,
    Nada se leva.
    Senão o abraço e o beijo,
    E o Bem que nela se faz,
    E aqui se deixa.



    As saudades são a sombra
    Inda impura dos Males
    E dos Vales a passar
    Menos dolorosa na medida
    Em que o Bem querer dele
    Sempre se lembrar.



    Augusto Armando de Castro Júnior

    (por 05 de novembro de 2010, morte de meu pai).

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