segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Vestes Com Dor Que Deixa Rastros

A idéia da morte sempre nos inquieta, mesmo que estejamos consciente que ela faz parte das nossas vidas.
Em nós, refugia-se o imenso desejo de protelarmos o máximo possível, a partida daqueles que amamos e também a nossa.Não importa a religião, a crença, a perda da mãe, pai, filhos, amigos...amores,a morte sempre dá uma rasteira na nossa emoção e nos abala  inteiramente. 

Por mais que eu tente imaginar a figura do velho Dourado feliz em outro plano, onde estou, fico sem  planos  com sua ausência.
Manuel Bandeira, tenta com maestria e simbolismos, apresentar-nos a morte de uma forma mais branda e com vestes romanescas.
Por isso,escolhe a figura da mulher- mãe que tenta proteger seu filho dos conflitos e dores, para protagonizar o teatro da vida e da morte
Mas,não tem jeito, até o anjo  se acolhe, diante do abraço da morte!
Vamos então, aproveitar o poema de Bandeira como uma linda Lição de Amor pela vida, vamos ficar cada vez mais próximos das pessoas que amamos, vamos abraçá-las como quem busca recarregar uma bateria extra, pra suprir a possível falta de luz.Vamos provocar em nós o desejo reconfortante do afeto e do carinho. 
Usando o "núcleo de bom senso no senso comum" como dizia Antonio Gramsci,na hora da perda, a intensidade do sofrimento e dor será bem maior, se a sua escolha tiver sido o descaso.Neste momento, a única certeza que teremos e que irá nos confortar, será a de que amamos e que cuidamos com carinho desse AMOR !

O HOMEM E A MORTE
Manuel Bandeira.


O homem já estava deitado
Dentro da noite sem cor.
Ia adormecendo, e nisto
À porta um golpe soou.
Não era pancada forte.
Contudo, ele se assustou,
Pois nela uma qualquer coisa
De pressago adivinhou.
Levantou-se e junto à porta
- Quem bate? Ele perguntou.
- Sou eu, alguém lhe responde.
- Eu quem? Torna. – A Morte sou.
Um vulto que bem sabia
Pela mente lhe passou:
Esqueleto armado de foice
Que a mãe lhe um dia levou.
Guardou-se de abrir a porta,
Antes ao leito voltou,
E nele os membros gelados
Cobriu, hirto de pavor.
Mas a porta, manso, manso,
Se foi abrindo e deixou
Ver – uma mulher ou anjo?
Figura toda banhada
De suave luz interior.
A luz de quem nesta vida
Tudo viu, tudo perdoou.
Olhar inefável como
De quem ao peito o criou.
Sorriso igual ao da amada
Que amara com mais amor.
- Tu és a Morte? Pergunta.
E o Anjo torna: - A Morte sou!
Venho trazer-te descanso
Do viver que te humilhou.
-Imaginava-te feia,
Pensava em ti com terror...
És mesmo a Morte? Ele insiste.
- Sim, torna o Anjo, a Morte sou,
Mestra que jamais engana,
A tua amiga melhor.
E o Anjo foi-se aproximando,
A fronte do homem tocou,
Com infinita doçura
As magras mãos lhe cerrou...
Era o carinho inefável
De quem ao peito o criou.
Era a doçura da amada
Que amara com mais amor.

Um comentário:

  1. Querida Lila,

    Queria lhe escrever com o coração; pois o texto, embora lindo, não tem a verdade que sabemos da dor, da perda, que a morte representa. Essa, infelizmente, é a verdadeira experiência da morte. Felizmente, há a vida. Felizmente, nessa vida, alguns encontramos pessoas que tanto nos ensinam, e com tanto amor. Como num revezamento, passamos adiante esse amor que nos foi passado, que ele é algo que temos para não ficar nunca somente conosco.
    Como se uma chama olímpica fosse, só o Amor nos sobrevive.

    Beijo grande (e um cheiro!),
    Armando.

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