"As roupas são inevitáveis.
São nada menos
que a mobília da mente tornada visível"
James Laver
São nada menos
que a mobília da mente tornada visível"
James Laver
couro de boi no desfile de João Pimenta e couro de vaca no desfile
de Gloria Coelho, no SPFW
Homem de Neandertal, com Roupas de Pele no Período Paleolítico
luxo ,muito menos acessório de moda fashion. As peças eram usadas para protegerem-se do frio e das intempéries, valia a lei da sobrevivência da espécie. Os mecanismos utilizados para a indumentária eram rudimentares. Mas, com a evolução e a industrialização foram sendo criadas novas técnicas de tecelagem e tingimentos, não sendo mais necessário a utilização de peles de animais.
As peles de animais passaram a fazer parte do mundo da moda, à medida que as estrelas de Hollywood passaram a usar casacos em Mink e Leopardo. Tornando-se símbolo de ostentação e riqueza, dos que as usavam.
A partir da década de 1960, graças a industrialização, os casacos, chapéus e muitos outros acessórios, passaram a ser confeccionados em peles sintéticas.No final da década de 1990, usar peles de animais gerava conflito, quem usava era alvo de críticas, como é o caso da editora de moda e diretora da Vogue americana Anna Wintour .Além de ser adepta do uso de peles,Wintour sempre fez questão de estampar páginas da sua revista, com muitos casacos de peles, o que gerou a revolta das associações em defesa dos animais como PETA(People for the Ethical Treatment of Animals) e Greenpeace, que promoveram inúmeros protestos diante do prédio da editora Condé Nast em Nova York.
Como é bom saber, que mundo é plural e diversificado. Enquanto a Anna Wintour, seguiu carreira construindo sua imagem no mundo da moda, como inacessível e despótica, tão bem retratada na obra de ficção- O Diabo Veste Prada, a atriz Brigitte Bardot,que também transitou no mundo da moda,o fez de forma inversa. A bela e sensual BB,antes modelo e depois atriz ,consagrou-se com o filme "E Deus Criou a Mulher", influenciou o mundo da moda com suas calças corsário, sapatilhas e penteado( usados até hoje) e tornou-se uma grande ativista dos direitos animais.Em 1986 ,criou a Fondation Brigitte-Bardot e nomeou o Dalai Lama como seu membro honorário.Bardot, atuou e liderou campanhas contra as fábricas de casacos de peles,a caça das baleias, as experiências em laboratório com animais e a atrocidade da matança de animais .Além disso, apresentou na tv francesa, uma série chamada S.O.S. Animaux.
A bela que encantou John Lennon e Paul McCartney,teve muitos seguidores, como Bob Dylan,Elton John, Billy Joel, Red Hot Chili Peppers, The Who, Caetano Veloso,Tom Zé, Dalai Lama, Lila Dourado e muitos outros.A estrela que brilhou como atriz e cantora, marcou sua presença no mundo da moda, não através de um discurso velado, mas através de um estilo que expressou-se além da linguagem das suas roupas.
Sabemos que os estilistas ao criarem uma coleção, pesquisam as tendências, colhem informações e elaboram suas peças observando cada detalhe e imaginando o desfile, como quem imagina um vocabulário vasto e de linguagem precisa.No imaginário, todas as peças se interligam, acessórios,estilos de cabelos, maquiagem,jóias,a postura da modelo e a trilha sonora. Na prática, na hora do desfile, assim como no imaginário, as idéias fluem e as roupas que as modelos vestem na passarela, tambem ganham corpo e carregam uma linguagem de signos. O desfile, tem o poder do encantamento de forma óbvia,o vocabulário é prático (dirigido ao mercado consumidor) e possui idioma universal ( não há regionalização e sim globalização).
Como exemplo deste Sistema de Signos, SPFW cumpriu sua missão. Levou para a passarela da maior Semana de Moda do país e do mais importante evento de moda da América Latina ,uma mostra espetacular anti "Arca de Noé". Desta vez ,os estilistas apostaram no uso de peles nas coleções.Fause Haten usou pele de raposa e plumas de ave e os estilistas Glória Coelho,Mário Queiroz,João Pimenta, Pedro Lourenço e Alexandre Herchcovitch usaram o couro de forma expressiva. Por isso, os desfiles aconteceram sob aplausos de uns e o olhar crítico de outros, gerando polêmica e desconforto.Enquanto Herchcovitch,estilista vegetariano usava no peito adesivo com inscrição "No Fur" (Pele Não) e dizia não haver necessidade do uso de peles , por haver no mercado material sintético semelhante, no seu desfile o uso do couro metalizado foi destaque. O estilista Pedro Lourenço reagiu às críticas"Acho uma babaquice esse tipo de manifestação. Acho que cada coleção é uma coleção e, se eu sentir necessidade de usar peles, vou voltar a usar. Só tem sentido discutir isso se as pessoas deixarem de usar sola de sapato de couro" . Samuel Cirnanski, afirmou :"Em tempos em que não se pode usar peles, reutilizo tecidos que trazem o mesmo efeito visual.Trabalhei à exaustão o método de desfiar tecidos, cuja textura dá a aparência de peles e plumas e o efeito visual é o mesmo". Bem...polêmicas à parte, já que o talento dos respectivos profissionais é inquestionável e cabe a cada um usar o material que quiser,assim como a escolha de ser ou não vegetariano.Mas é lastimável saber ,que com tanto talento e conhecedores dos mais diversos tipos de materiais, os nossos estilistas usaram a pele de animais, sem a mínima preocupação com a política do ‘ecologicamente correto'. Salvo exceções, eles estavam ali para expor a nova coleção inverno 2012,para um mercado consumidor restrito e específico, sem observarem o quanto estavam caminhando na contramão da História.
E o que faltou na passarela, aconteceu nos corredores da Bienal.Foi neste espaço, que as celebridades, fashionistas, blogueiras e interessados no mundo da moda, desfilaram seus looks ,compostos com casacos de pele fake e em couro sintético, que além de aquecerem o corpo, eram visualmente belos e bem mais leves. Arrasaram!!! Isso sim é enfrentar o inverno paulistano, com estilo e civilidade.
Por isso,se houver dúvida quanto " Que Roupa Vestirei" é bom lembrar, que as roupas de fato possuem um vocabulário próprio e que mais importante que acompanhar as tendências de cada estação é descobrir seu estilo...é saber, que cuidar da natureza e de todos os elementos que a compõe é preservar a nossa vida e as muitas que virão .Cabe portanto, a cada um de nós, escolhermos uma vestimenta que expresse a nossa identidade e que permita uma leitura digna e uma visão harmoniosa por parte do observador.
Como falou James Laver: " As roupas são inevitáveis. São nada menos que a mobília da mente tornada visível"
Sendo assim...Cuidemos da mente antes de torná-la visível!
Pedro Lourenço usou pelos de cabra angorá no SPFW
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