terça-feira, 11 de maio de 2010

Faces da Alice


como a personagem de Lewis Carroll foi retratada nos filmes, animações e séries de TV

Guss de Lucca
Apesar de todas as suas alegorias nonsense, como o Gato de Cheshire e a festa louca do chá, a história do reverendo Charles Lutwidge Dodgson (nome real de Carrol) tem como protagonista a jovem Alice, personagem inspirada em Alice Pleasance Liddell, a menina de dez anos que pediu a Carrol para escrever a fábula contada a ela durante uma travessia de barco pelo Rio Tâmisa.

Foto: Reprodução
Ilustração de Alice feita por Lewis Carroll em Alice's Adventures Underground
Do inocente pedido surgiu uma das histórias mais famosas do mundo, que não por acaso popularizou a personagem Alice criada por Carrol, conferindo à menina diversas interpretações em mais de um século de adaptações.
Como fotógrafo amador o reverendo registrou algumas imagens de Alice Liddell, que muito provavelmente serviram de base para a primeira ilustração de sua contraparte fictícia, desenhada pelo próprio autor em um manuscrito batizado de Alice's Adventures Underground - As Aventuras de Alice no Subsolo, em tradução livre.
Apesar de pouco conhecida, essa imagem pode ser apontada como a primeira versão da verdadeira Alice, que acabou ofuscada pelos traços do ilustrador John Tenniel, responsável pelos desenhos da publicação original do livro, de 1865.
As ilustrações de Tenniel, feitas como xilogravuras, serviram de inspiração para a maioria das adaptações cinematográficas de Alice no País das Maravilhas, ditando muito do visual de sua protagonista, como o vestido godê com avental e o cabelo louro.
Poucos cineastas fugiram dessa imagem, alterando apenas as cores do vestido, que já foi azul, vermelho e rosa, e o tom do cabelo da protagonista - em sua maioria loiro, mas com passagens pelo castanho.
Apesar de precoce, a primeira adaptação do livro já conta com efeitos especiais. Dirigido por Cecil Hepworth e Percy Stow em 1903, o filme inglês Alice in Wonderland usa truques primários da história do cinema para mostrar tanto o encolhimento quanto o crescimento da personagem, interpretada pela atriz May Clark, de apenas 14 anos.
Sete anos mais tarde, em 1910, o cineasta norte-americano Edwin S. Porter filma sua própria versão da obra, entregando o papel de Alice a jovem Gladys Hulette, também aos 14 anos. Assim como a adaptação britânica, essa versão é muda e de curta duração para os padrões atuais - com apenas dez minutos.

Foto: Reprodução
A personagem Alice na versão da Disney
Em 1933 a Paramount Pictures lança sua adaptação do livro, em que a personagem principal, interpretada por Charlotte Henry, com 19 anos na época, usa vestes muito semelhantes às das ilustrações de John Tenniel - e o cabelo mais claro.
Boicotada pelos Walt Disney Studios, a animação francesa Alice au Pays des Merveilles, de 1949, utilizou tanto atores reais como personagens em stop motion, técnica de animação que utiliza bonecos e objetos. Como a Disney estava produzindo sua própria versão animada da história, o longa-metragem francês não chegou a estrear nos Estados Unidos e passou despercebido por outros países.
Apesar da força do estúdio norte-americano, sua versão de Alice no País das Maravilhas, lançada em 1951, sofreu severas críticas de fãs de Lewis Carroll, acusando a produtora de ter "americanizado" um clássico britânico. Mesmo assim, o visual da personagem apresentado pela Disney, com o vestidinho azul e os cabelos louros, tornou-se o mais conhecido desde as ilustrações de Tenniel.
Uma Alice loira também protagonizou a animação para a TV feita pela Hanna-Barbera em 1966, que conta com a participação de Fred Flintstone e Barney Rubble, personagens do seriado Os Flintstones.
Talvez a mais curiosa versão da jovem seja a do musical pornográfico dirigido por Bud Townsend em 1976. Nesta história, Alice, interpretada pela atriz Kristine DeBell, faz caras e bocas ao encontrar com os famosos personagens em um País das Maravilhas Sexuais - uma Alice, aliás, com decote provocante.
Em 1982 foi a vez de Meryl Streep, então com 33 anos, assumir o papel principal no especial para televisão Alice at the Palace - Alice no Palácio, em tradução livre. Nele a personagem aparece com um macacão rosa e cabelos cheios, atualizando o visual da personagem do século 19.

Foto: Reprodução
Versão tcheca de Alice é tida como sombria
Um ano mais tarde, em 1983, o estúdio de animação japonesa Nippon Animation lança Fushigi no Kuni no Alice, uma série animada de 52 episódios que retrata Alice em estilo animê, com cabelo louro e vestido vermelho. Mas a grande diferença desta para a obra original é que Alice retorna para casa ao fim de cada capítulo.
Com o título original de Neco z Alenky, o diretor tcheco Jan-vankmajer lançou uma versão surrealista para a história de Lewis Carroll, que apesar de sombrio, traz no papel de Alice a atriz Kristýna Kohoutová, que usa um vestido rosa e mantém o espírito inocente da personagem.
As marionetes da série Vila Sésamo ganharam em 2008 sua própria versão de Alice no País das Maravilhas, mas com o título Abby no País das Maravilhas, afinal, é estrelada pela personagem rosa Abby Cadabby.
Para encerrar, ao menos por um momento, a lista de adaptações da personagem Alice, está a atriz de 21 anos Mia Wasikowska, que contracena com Johnny Depp e Helena Bonham Carter na versão do cineasta Tim Burton.
O diretor optou por recuperar o visual clássico com as cores da Disney: um vestido azul, mas não tão infantil: no longa Alice já cresceu e, ao escapar de um pedido de casamento, acaba voltando ao País das Maravilhas.

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