quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Chicos e Arcas

Chico Mororó durante entrevista na TV O Povo


Por onde andará o velho Chico?!

O Chico ao qual me refiro, não é o compositor Chico Buarque de Holanda, e sim, Francisco Mororó presidente da Organização Paratodos(Jogo do Bicho).
Em comum, algumas palavras, anseios e coincidências. Os Franciscos, ficaram conhecidos como Chicos, ambos rejeitaram a censura,em situações diferentes. Chico Buarque criou " Paratodos ",onde a família, músicos e amigos agregam-se numa só Jornada.Enfrentando tempo bom ou ruim, seguiu nos trilhos da soma dos vários estilos musicais. O velho Chico Mororó,  considerado um dos símbolos do Paratodos,presidiu a organização  de 1976 a outubro de 2008, quando foi fechada pela polícia federal.No período, Chico Mororó angustiou-se com o grande número de pessoas que ficaram desempregadas em todo o estado do Ceará. Na época chegou a comentar, " O Paratodos é uma grande família,constituída não somente pelos filhos e parentes dos associados,mas por quem nos procura e precisa da nossa ajuda,a cada dia adotavamos mais filhos. Fica difícil dizer qual ONG ou Instituição que desenvolve um trabalho social neste estado, que não tenha recebido nosso apoio. Todos os que nos procuravam, sejam políticos com boas intenções, partidos, mães desamparadas com seus filhos, meninos e meninas com cabelos brancos(referindo-se à terceira idade), todos são filhos de Deus e é nossa obrigação amparar".
Se Chico Buarque  foi perseguido durante a Ditadura Militar, exilou-se e criou a bela metáfora poética e musical "Cálice". O velho Chico Mororó, também indignou-se com as ações arbitrárias da censura durante o período da Ditadura Militar e  ficou espantado com a censura prévia ao Grupo de Comunicação O POVO,durante o período da investigação.Tanto, que assim como as entidades nacionais, se solidarizou ao jornal. Fez questão de ir ao jornal esclarecer ser contrário a censura e não ter participação na mesma.Em entrevista ao jornalista Claudio Ribeiro, afirmou  “Vocês não sabem o bem que estão fazendo em me deixar desabafar. Hoje pelo menos vou poder dormir mais tranquilo”. Para mim chegou a dizer que"minha filha, a imprensa é a porta que se abre para o conhecimento dos fatos reais".Chico Mororó, não tinha a formação acadêmica do grande compositor, mas era um grande incentivador do estudo, chegou a financiar a produção literária e os estudos de muita gente." Não cheguei a terminar o primeiro grau,minha escola foi a vida,a crença e a fé que tenho em Deus, na família e nas pessoas de bom coração. Mas graças ao meu pai, tornei-me um homem capaz de dar estudo aos meu filhos  e aos filhos dos outros. Ao que tudo indica, a escola foi boa, conversar com Mororó era  participar de curso intensivo, onde adquiríamos noções sobre cidadania, trabalho, família e economia ,da forma mais prazeirosa possivel, sempre com muito humor e sabedoria.
É... os CHICOS nunca se conheceram e são de escolas de vida diferentes, mas há muitas palavras que navegam no oceano da nossa história, que os aproximam.Ambos adoram jogar, enquanto um  Joga no Bicho, o outro adora jogar futebol. Além das já citadas, vale lembrar que Chico Buarque de Holanda compôs a bela canção"Arca de Noé", musicada por Toquinho e coincidência ou não, a Operação  deflagrada em outubro de 2008,pela Polícia Federal na Organização Paratodos, chamou-se " Arca de Noé." Nela, vários "bichos" ou bicheiros foram presos,tiveram contas e bens confiscados pela Justiça e desde 2008 o velho condutor de nome Chico Mororó, perdeu a direção do leme e nunca mais voltou a navegar. Por onde andará o velho Chico? Além de ensinar a pescar, ajudou tanta gente a sobreviver do naufrágio e desamparo  das cidades e dos sertões do Ceará. Onde andará o velho Chico, eu não sei, mas  sei que"Os maiores vêm à frente Trazendo a cabeça erguida E os fracos humildemente Vêm atrás, como na vida "



A Arca de Noé


Composição: Chico Buarque & Toquinho
Sete em cores, de repente,
O arco-íris se desata
Na água límpida e contente
Do ribeirinho da mata.
O Sol, ao véu transparente
Da chuva de ouro e de prata
Resplandece resplendente,
No céu, no chão, na cascata.
E abre-se a porta da arca
Lentamente surgem francas
A alegria e as barbas brancas
Do prudente patriarca
Vendo ao longe aquela serra
E as planícies tão verdinhas
Diz Noé: "Que boa terra
Pra plantar as minhas vinhas
Ora vai, na porta aberta
De repente, vacilante
Surge lenta, longa e incerta
Uma tromba de elefante
E de dentro de um buraco
De uma janela aparece
Uma cara de macaco
Que espia e desaparece
"Os bosques são todos meus!"
Ruge soberbo o leão
"Também sou filho de Deus!"
Um protesta; e o tigre: "Não!"
A arca desconjuntada
Parece que vai ruir
Entre os pulos da bicharada
Toda querendo sair
Afinal com muito custo
Indo em fila, aos casais
Uns com raiva, outros com susto
Vão saindo os animais
Os maiores vêm à frente
Trazendo a cabeça erguida
E os fracos humildemente
Vêm atrás, como na vida
Longe o arco-íris se esvai
E desde que houve essa história
Quando o véu da noite cai
Erguem-se os astros em glória
Enche o céu de seus caprichos
Em meio à noite calada
Ouve-se a fala dos bichos
Na terra repovoada.





Chico jogando no Maracanã, ao lado de grandes craques do futebol para arrecadar  recursos para a Fundação Gol de Letra, que incentiva crianças e adolescentes a praticar esportes e atividades culturais.

Um comentário:

  1. Lila, li seu texto agora e confesso me emocionei. Meu tio fez tudo isso que voce mencionou e muito mais. Sempre foi um forte à frente da organização e de nossa família, que sempre teve uma história de luta, hombridade, honestidade -veja nosso Pe. Mororó - não caimos facilmente nem se ajoelhamos perante os poderosos. Gostei bastante. Grande beijo ! JCarlosMororo

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