A idéia da morte sempre nos inquieta, mesmo que estejamos conscientes, que ela faz parte da nossa jornada em vida .
Em nós, refugia-se o imenso desejo de protelarmos a partida daqueles que amamos e também a nossa.Não importa o nosso nível cultural, social,a nossa religião ou a crença, a dificuldade é a mesma, no enfrentamento da perda de pais e filhos. A morte, sempre dá uma rasteira e nos surpreende,nos abalando inteiramente na emoção.
Como dizia Antonio Gramsci, na hora da perda, a intensidade do sofrimento e dor será bem maior, se a escolha tiver sido o descaso.
Lendo a linda carta do jornalista Mauro Beting, para o pai brilhante e o melhor comentarista político e econômico do Brasil, o jornalista Joelmir Beting,emocionei-me pela carga de carinho e gratidão ao pai e lembrei-me do "Babbo Dourado",meu amado pai e das minhas palavras direcionadas a ele, logo após a vitória da presidenta Dilma Rousseff.
Lágrimas rolaram...mas a única certeza que tenho...teremos e que irá nos reconfortar, será a de que amamos e que cuidamos com carinho desse AMOR .
Nossos pais, percorreram caminhos diferentes, mas cada um a seu modo,foram grandiosos no jornalismo político,como escritor e ao desempenharem o papel de pai. Se o destino os levaram de nós,em consequência de uma AVC,depois de mais de 70 anos de enveredarem pela estrada sinuosa da história do país, não os levaram de nós e conosco permanecerão, através das boas lembranças.
Posto agora no QRV, o texto de Mauro Beting e em seguida, o que fiz para meu pai Francílio Dourado.
Compartilho, desejando que muitos outros filhos colham e acolham, as nossas palavras.Quem sabe assim, estaremos semeando o amor, a gratidão e o respeito, nos muitos filhos que nos rastreiam, nutrindo e multiplicando esse bem querer, pelos os que conduziram nossos passos, com tanto desempenho e amor por nós e pelos filhos da Pátria!
Joelmir Beting, Jornalista, comentarista de economia e política do Grupo Bandeirantes
Babbo, 21/12/1936 – ET/ER/NO
por Mauro Beting em 27.nov.2012 às 11:51h
Nunca falei com meu pai a respeito depois que o Palmeiras foi rebaixado. Sei que ele soube. Ou imaginou. Só sei que no primeiro domingo depois da queda para a Segunda pela segunda vez, seu Joelmir teve um derrame antes de ver a primeira partida depois do rebaixamento. Ele passou pela tomografia logo pela manhã. Em minutos o médico (corintianíssimo) disse que outro gigante não conseguiria se reerguer mais.
No dia do retorno à segundona dos infernos meu pai começou a ir para o céu. As chances de recuperação de uma doença autoimune já não eram boas. Ficaram quase impossíveis com o que sangrou o cérebro privilegiado. Irrigado e arejado como poucos dos muitos que o conhecem e o reconhecem. Amado e querido pelos não poucos que tiveram o privilégio de conhecê-lo.
Meu pai.
O melhor pai que um jornalista pode ser. O melhor jornalista que um filho pode ter como pai.
Preciso dizer algo mais para o melhor Babbo do mundo que virou o melhor Nonno do Universo?
Preciso. Mas não sei. Normalmente ele sabia tudo. Quando não sabia, inventava com a mesma categoria com que falava sobre o que sabia. Todo pai é assim para o filho. Mas um filho de jornalista que também é jornalista fica ainda mais órfão. Nunca vi meu pai como um super-herói. Apenas como um humano super. Só que jamais imaginei que ele pudesse ficar doente e fraco de carne. Nunca admiti que nós pudéssemos perder quem só nos fez ganhar.
Por isso sempre acreditei no meu pai e no time dele. O nosso.
Ele me ensinou tantas coisas que eu não sei. Uma que ficou é que nem todas as palavras precisam ser ditas. Devem ser apenas pensadas. Quem fala o que pensa não pensa no que fala. Quem sente o que fala nem precisa dizer.
Mas hoje eu preciso agradecer pelos meus 46 anos. Pelos 49 de amor da minha mãe. Pelos 75 dele.
Mais que tudo, pelo carinho das pessoas que o conhecem – logo gostam dele. Especialmente pelas pessoas que não o conhecem – e algumas choraram como se fosse um velho amigo.
Uma coisa aprendi com você, Babbo. Antes de ser um grande jornalista é preciso ser uma grande pessoa. Com ele aprendi que não tenho de trabalhar para ser um grande profissional. Preciso tentar ser uma grande pessoa. Como você fez as duas coisas.
Desculpem, mas não vou chorar. Choro por tudo. Por isso choro sempre pela família, Palmeiras, amores, dores, cores, canções.
Mas não vou chorar por algo mais que tudo que existe no meu mundo que são meus pais. Meus pais (que também deveriam se chamar minhas mães) sempre foram presentes. Um regalo divino. Meu pai nunca me faltou mesmo ausente de tanto que trabalhou. Ele nunca me falta por que teve a mulher maravilhosa que é dona Lucila. Segundo seu Joelmir, a segunda maior coisa da vida dele. Que a primeira sempre foi o amor que ele sentiu por ela desde 1960. Quando se conheceram na rádio 9 de julho. Onde fizeram família. Meu irmão e eu. Filhos do rádio.
Filhos de um jornalista econômico pioneiro e respeitado, de um âncora de TV reconhecido e inovador, de um mestre de comunicação brilhante e trabalhador.
Meu pai.
Eu sempre soube que jamais seria no ofício algo nem perto do que ele foi. Por que raros foram tão bons na área dele. Raríssimos foram tão bons pais como ele. Rarésimos foram tão bons maridos. Rarissíssimos foram tão boas pessoas. E não existe outra palavra inventada para falar quão raro e caro palmeirense ele foi.
(Mas sempre é bom lembrar que palmeirenses não se comparam. Não são mais. Não são menos. São Palmeiras. Basta).
Como ele um dia disse no anúncio da nova arena, em 2007, como esteve escrito no vestiário do Palmeiras no Palestra, de 2008 até a reforma: “Explicar a emoção de ser palmeirense, a um palmeirense, é totalmente desnecessário. E a quem não é palmeirense… É simplesmente impossível!”.
A ausência dele não tem nome. Mas a presença dele ilumina de um modo que eu jamais vou saber descrever. Como jamais saberei escrever o que ele é. Como todo pai de toda pessoa. Mais ainda quando é um pai que sabia em 40 segundos descrever o que era o Brasil. E quase sempre conseguia. Não vou ficar mais 40 frases tentando descrever o que pude sentir por 46 anos.
Explicar quem é Joelmir Beting é desnecessário. Explicar o que é meu pai não estar mais neste mundo é impossível.
Nonno, obrigado por amar a Nonna. Nonna, obrigado por amar o Nonno.
Os filhos desse amor jamais serão órfãos.
Como oficialmente eu soube agora, 1h15 desta quinta-feira, 29 de novembro. 32 anos e uma semana depois da morte de meu Nonno, pai da minha guerreira Lucila.
Joelmir José Beting foi encontrar o Pai da Bola Waldemar Fiume nesta quinta-feira, 0h55.
Francílio Dourado, durante o lançamento do livro "História do Brasil República e Ceará Estado" na Câmara Municipal de Fortaleza
Dourado, cor que reveste a ausência
por Lila Dourado em 01.nov.2010 às 12:16h
Só os pais, nos acolhem com amor incondicional,ao longo da nossas vidas,aguentam nossas chatices, inquietações, alegrias,tristezas, enfrentam conosco nossos medos, cuidam dos nossos ferimentos, para que estes não deixem cicatrizes, nem no físico, nem na alma .
Pai e Mãe, o que seria de nós, sem eles ? na verdade,nem existiríamos.
Acordei com saudades, do velho Dourado. Lembrei-me, de quando Lula foi eleito presidente e enquanto comemoravamos e cantavamos "Lula lá uma estrela brilha..."abraçando meus irmãos Dourado e Marcílio, comemoravamos e choravamos, lembrando do nosso pai, que não estava ali pra testemunhar a vitória de um grande líder sindical.
A vitória da Dilma, foi uma grande conquista para a Mulher.Mas foi diferente, num outro contexto,com alianças que deixaria meu pai indignado.Conhecia-o bem,seu jeito inquieto e verdadeiro de ser.Sempre que vejo o Plínio Arruda Sampaio do PSOL na TV, lembro-me do inquieto político do PDT Francílio Dourado,seu jeito anárquico ,brincalhão e opositor por convicção.
Após a vitória da Dilma, lembrei-me muito dele.A figura política do velho Dourado, reflete a somatória da postura do Plínio com a Marina.Lembro-me, que o mesmo afastou-se do PDT, partido do qual foi um dos fundadores no Ceará, quando Lúcio Alcântara filiou-se, dizendo" não posso continuar num partido, que aceita filiações de quem colaborou com o governos arenistas e ocupou cargos públicos durante a ditadura".
Lembro-me ainda,da forma alegre como presenteava os filhos, ao chegar de suas viagens como jornalista político. Guardo com carinho, a primeira boneca, a vitrola, as agendas(que me serviam como diários), os livros e a máquina de escrever.Guardo ainda ,o seu primeiro panfleto de candidato a vereador,ao lado de outra mulher também inquieta, na luta por justiça social, a Rosa Fonseca.
Abrindo minha caixa de fotografias, como me orgulho, vê-lo em passeatas, contra a ditadura militar, noutras ao lado de Brizola, Moema Santiago,Tereza Zerbini e seus fiéis amigos da política,Heitor Férrer e Araújo de Castro( que nos deixou a pouco tempo,pra continuar ao lado do amigo,lutando por um mundo melhor, lá de cima).
Sinto falta dos seus discursos inflamados, diante das alianças políticas que se orquestravam em prol das eleições e da alternância do poder.
Lembro-me bem, do jeito emocionado e cheio de orgulho, ao falar dos filhos. Brigar...ele brigou com todos, da mesma forma e com a mesma intensidade que estendeu a mão e abriu os braços quando necessário.Atitude comum,não somente em relação aos filhos, mas extensiva a todos com os quais convivia,com os quais tinha afeto.
Francílio Dourado, rompia os padrões convencionais, tanto na convivência social como política. Seu jeito expontâneo e verdadeiro de ser, incomodava alguns, mas agradava a grande maioria dos que o conheciam.Foi um guerreiro na luta contra a ditadura e contra o coronelismo no Ceará.
Quando criança, via meu pai como uma espécie de herói,cresci vendo suas inquietações e sabendo que quando ele ausentava-se de casa, era por estar percorrendo todo o estado do Ceará, fundando núcleos políticos, como fez com o MDB (partido que durante o regime militar,congregava as forças oposicionistas contra a Arena,partido da situação).
Francílio Dourado...quanto orgulho eu tinha e tenho ao chamá-lo de pai. Era de fato, um bom cidadão, um bom jornalista,um homem que advogava sempre em favor dos outros e que percorria os mais diversos caminhos à favor da educação.Nossa casa, serviu de abrigo para parentes,amigos... tinha sempre visitas, pessoas de baixa renda, que vinham em busca de ajuda para colocar seus filhos nas escolas e em cursinhos pré-vestibulares.Acredito, que minha grande paixão pela Chapada do Araripe,não deve-se somente a questão da beleza geográfica, arqueológica e a cultura do povo.Mas, principalmente pelo que meu pai plantou por lá, dos rastros que ele deixou.
Quando escuto pessoas, que o conheceram falando dele de forma elogiosa, fico emocionada. Como ocorreu, quando o jornalista e ex-secretário de cultura, Auto Filho, me falou:
" Seu pai ajudou muita gente, da forma mais expontânea e verdadeira.Muitos dos quais,ele nem percebia o quanto estava ajudando, por achar sua ação um ato natural .Sou muito grato ao Dourado, pela forma despretenciosa e consciente, com a qual ele me ajudou durante a ditadura".
Adísia Sá,outra profissional amiga e companheira do jornalismo,que aprendi a admirar através do meu pai, me deixou com a voz embargada, após um debate na Universidade ao afirmar:
" Minha filha, seu pai possuia características que são essenciais no jornalismo, a inquietude, o compromisso e a coragem , ele não só buscava a notícia, ele participava, se envolvia sem se render.Por isso,não chegou ao poder,pois não mudava seu ponto de vista,não se vendia por nada,não se rendia nem mesmo ao partido ao qual era filiado " .
Papai ,conquistou muitos amigos e não deixou inimigos.Cercou-se de pessoas que ainda hoje, nos abraça com a emoção e o carinho de quem abraça os filhos de um "Zoadento Guerreiro".
Também não deixou herança material,mas deixou para nós a certeza, de que o amor verdadeiro é incondicional e que é este amor, que deve alimentar as relações entre pais e filhos.
Saudades...saudades deste guerreiro que se foi e nos deixou com muitas histórias pra contar !
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