domingo, 28 de abril de 2013

Forró Sem Estilo ...abram o olho como Ariano Suassuna


"Arte pra mim não é produto de mercado. 
Podem me chamar de romântico. 
Arte pra mim é missão, vocação e festa”.
(Ariano Suassuna)
O romancista, dramaturgo e poeta paraibano Ariano Suassuna criticou as letras das bandas de forró, exemplificada pela Banda Calipso, durante uma palestra , levando a platéia a citar muitas frases de bandas de forró, que não só desqualificavam a literatura,mas que enfaticamente eram portadoras de pensamentos preconceituosos e jocosos, principalmente com relação a mulher.
Alguns membros de bandas de forró, deram entrevistas na época dizendo " Quem ele pensa que é, para sair nos julgando, somos artistas e merecemos ser respeitados. Ele deve ser mais um desses críticos do sul, que tem preconceito com nordestino ficar famoso, se ao invés de criticar fosse assistir nosso show, ele ia ver que o forró evoluiu e que nosso Forró é Estilizado"
A interrogação e reflexão do jovem rapaz ,  refletem a categoria do artista que ele representa. Bem que a jornalista poderia dar uma luz ao  entrevistado, dizendo : O Ariano Suassuna (na época Secretário de Cultura) é um dos maiores pesquisadores da Cultura Nordestina. Além de grande escritor, dramaturgo e poeta brasileiro ele também é nordestino. O autor de o Auto da Compadecida e A Pedra do Reino é sem dúvida alguma, uma das nossas melhores referências, na fértil caminhada pelos pensamentos literários brasileiros.
Quanto a questão de "Forró Estilizado", acho essa história muito "confusa", para não usar outro termo. Pois, vejo a palavra estilizar intrinsecamente ligada ao refinamento, ao requinte e ao aperfeiçoamento sutil para o melhoramento. Se as atuais bandas de forró desqualificam a composição poética e melódica, jamais podem ser chamadas de "estilizadas". Abram o olho como Ariano Suassuana , conferindo esse raro presente de Jackson do Pandeiro, ícone do forró pé-de-serra original!


Posto abaixo, o artigo “A Música dos Valores Perdidos”,escrito pelo jornalista e crítico musical José Teles, que muita gente posta nas redes sociais como sendo de Ariano Suassuna,  vale dar uma lida para ampliar a reflexão e para esclarecer a autoria.

A Música dos Valores Perdidos
“Tem rapariga aí? Se tem levante a mão!”. A maioria, as moças, levanta a mão.
Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, de todas bandas do gênero). As outras são “gaia”, “cabaré”, e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade.

O secretário de cultura Ariano Suassuna foi bastante criticado, numa aula-espetáculo, no ano passado, por ter malhando uma música da banda Calipso, que ele achava (deve continuar achando, claro) de mau gosto. Vai daí que mostraram a ele algumas letras das bandas de “forró”, e Ariano exclamou: “Eita que é pior do que eu pensava”. Do que ele, e muito mais gente jamais imaginou.

Pruma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura), Zé Priquito (Duquinha), Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), Chefe do puteiro (Aviões do forró), Mulher roleira (Saia Rodada), Mulher roleira a resposta (Forró Real), Chico Rola (Bonde do Forró), Banho de língua (Solteirões do Forró), Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal), Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada), Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró), Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.

Porém o culpado desta “desculhambação” não é culpa exatamente das bandas, ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando-se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de “forró”, parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shortes começavam muito tarde. Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado. Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo estético,. Pior, o glamur, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo.

A cantora Ceca foi uma espécie de Ivete Sangalo do turbo folk (ainda está na estada, porém com menor sucesso). Foram comprados 100 mil vídeos do seu casamento com Arkan, mafioso e líder de grupo para-militares na Croácia e Bósnia. Arkan foi assassinado em 2000. Ceca presa em 2003. Ela não foi a única envolvida com a polícia, depois da queda de Milosevic, muitos dos ídolos do turbo folk envolveram-se com a justa pelo envolvimento com a poderosa máfia de Belgrado.

A temática da turbo folk era sexo, nacionalismo e drogas. Lukas, o maior ídolo masculino do turbo folk pregava em sua música o uso da cocaína. Um dos seus maiores hits chama-se White (a cor do pó, se é que alguém ignora), e ele, segundo o Guardian, costumava afirmar: “Se cocaína é uma droga, pode me chamar de viciado”. Esteticamente, além da pouca roupa, a sanfona é o instrumento que se destaca tanto no turbo folk quanto no chamado forró eletrônico, instrumento decorativo, ali muito mais para lembrar das raízes da música tradicional. Ressaltando-se que não se tem notícia de ligação entre bandas de “forró” e crime organizado. No que elas são iguaizinhas é que proliferaram em meio a débâcle de valores estéticos, morais, e éticos, e despolitização da juventude. Com a volta da governabilidade nas repúblicas da antiga Iugoslávia, o turbo folk perdeu a força, vende ainda porém muito menos do que no passado, hoje é apenas uma música popular para se dançar, e não a trilha sonora de um regime condenado por, entre outras lástimas, genocídio.

Aqui o que se autodenomina “forró estilizado” continua de vento em popa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem “rapariga na platéia”, alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção ?!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é “É vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!”, alguma coisa está muito doente. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.

Tapa na Bunda, na Cara
Felipão e Forró Moral

Um tapa na bunda, na cara
puxão nos cabelos eu sei 
que você gosta.


Dinheiro Na Mão, Calcinha No Chão
Saia Rodada


Olha que eu tenho uma gatinha muito cara
E eu já gastei mais de um milhão
E quando chamou para um motel, ela disse:
De graça? Tá louco?

Mas se o dinheiro tá na mão

A calcinha tá no chão
Mas se o dinheiro tá na mão
A calcinha tá no chão
Mas se o dinheiro tá na mão
A calcinha tá no chão


Não É Nada Disso (Bicicleta)
Aviões do Forró

Abre as pernas e senta em cima dela
Abre bem as pernas e senta em cima dela
Não é nada disso que você está pensando
Não é nada disso que você está pensando
É da bicicleta que eu estou falando
É da bicicleta que eu estou falando

Mete o dedo e da um rodadinha
Mete o dedo e da uma mexidinha
Não é nada disso que você está pensando
Não é nada disso que você está pensando
É do telefone que eu estou falando
É do telefone que eu estou falando

É dura e comprida e quando entra sai sangue
É dura e comprida e quando entra sai sangue
Não é nada disso que você está pensando
Não é nada disso que você está pensando
É da injeção que eu estou falando
É da injeção que eu estou falando

Entra duro sai mole e pingando
Entra duro sai mole e pingando
Não é nada disso que você está pensando
Não é nada disso que você está pensando
É do macarrão que eu estou falando
É do macarrão que eu estou falando

Tira a camisinha e dá uma chupadinha
Tira a camisinha e da uma chupadinha
Não é nada disso que você está pensando
Não é nada disso que você está pensando
É do picolé que eu estou falando
É do picolé que eu estou falando

Braço com braço, pança com pança
Em cima do umbingo faz uma lambança
Não é nada disso que você está pensando
Não é nada disso que você está pensando
É do violão que eu estou falando
É do violão que eu estou falando

Abre as pernas e senta em cima dela
Abre bem as pernas e senta em cima dela
Não é nada disso que você está pensando
Não é nada disso que você está pensando
É da bicicleta que eu estou falando

E vai metendo o dedo e dá uma rodadinha
Mete bem o dedo e da uma mexidinha
Não é nada disso que você está pensando
Não é nada disso que você está pensando
É do telefone que estou falando

Tira tira a camisinha e da uma chupadinha
Tira a camisinha e da uma chupadinha
Não é nada disso que você está pensando
Não é nada disso que você está pensando
É do picolé que eu estou falando
É do picolé que eu estou falando

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